A bancada do PMDB na Cmara dos Deputados decidiu no comeo da noite da quarta-feira abrir mo de indicar nomes para o gabinete da presidente Dilma Rousseff, em uma clara demonstrao da insatisfao do partido com os rumos da reforma ministerial. Apesar do abandono na Cmara Federal, o PMDB no Senado no desistiu do 6 ministrio indicado pelos lderes do partido para o senador paraibano Vital do Rgo.
A deciso no implica um rompimento com o governo “independentemente da ocupao de qualquer cargo, em funo da responsabilidade que temos para com o pas, principalmente em relao ao desempenho da economia”, segundo uma nota aprovada por unanimidade pelos deputados peemedebistas. A promessa foi reforada pelo lderda bancada, deputado Eduardo Cunha (RJ), aps a reunio.
“Eu assinei o pacto que foi feito pelos lderes da base aliada e os presidentes dos partidos que ns no votaramos matrias que impliquem aumento de despesa. No h nenhuma alterao e no haver da parte do PMDB sobre esse aspecto”, disse Cunha a jornalistas.
Ele se referia ao pacto assinado no ano passado a pedido de Dilma para demonstrar o compromisso do governo com a austeridade fiscal. A reao ocorreu depois que a presidente disse em uma reunio na segunda-feira com o vice-presidente, Michel Temer, que o partido no ampliaria seu espao na Esplanada dos Ministrios, disse Reuters uma fonte do Palcio do Planalto. Dilma teria sugerido ainda que a bancada na Cmara teria que abrir mo de uma de suas indicaes para que o senador Euncio Oliveira (CE) ocupasse a pasta da Integrao Nacional, segundo a fonte.
O pedido de Dilma irritou ainda mais os deputados, que viram neste movimento uma manobra para atender aos interessesdo PT no Cear, que quer Oliveira fora da disputa para construir uma aliana com o nome indicado pelo governador cearense, Cid Gomes.
Atualmente, o PMDB comanda os ministrios da Previdncia, da AviaoCivil, de Minas e Energia, do Turismo e da Agricultura, esses dois ltimos com indicaes dos deputados.
“A razo desta deciso deve-se a disputas polticas pblicas por cargos, em que preferimos deixar a presidente vontade para contemplar outros partidos em funo das suas convenincias polticas e/ou eleitorais”, segundo a nota. Cunha disse que melhor no estar representado do que subrepresentado. “Nesse momento o que ns decidimos que a bancada do PMDB na Cmara cansou desse processo de cargos que tem que indicar, que no tem que indicar”, disse. Ele afirmou, porm, que se houver uma nova rodada de negociaes com a presidente, a bancada pode discutir o tema novamente.
O clima da reunio foi bastante tenso e parte dos parlamentares chegou a sugerir que o partido rompesse com Dilma e entregasse todos os cargos que ocupa no governo.
O deputado Danilo Forte (CE) afirmou durante a discusso que ser aliado atualmente “traz prejuzo para a imagem do PMDB”. Fora da reunio, questionado pelos jornalistas se a bancada deixaria a base aliada, ele respondeu: “O PMDB continua no governo, ningum pode enforcar o Michel Temer.”
O presidente em exerccio do partido, senador Valdir Raupp (RO), disse Reuters que a nota e a posio da bancada ficaram mais brandas aps vrias reunies que ocorreram desde segunda-feira.
“J era esperada (no partido essa deciso da bancada). Conversamos bastante (antes), por isso saiu uma nota mais branda”, afirmou.
Raupp disse que conversou com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que pediu que ele dissesse aos deputados que a presidente no havia fechado nenhuma deciso sobre a reforma e que ainda haveria mais negociao com o partido.
“O que o pas menos precisa nesse momento de uma crise poltica”, disse. A Reuters procurou o Palcio do Planalto para comentar a deciso dos peemedebistas, mas no obteve resposta. NOVELA DA REFORMA
As conversas entre Dilma e o PMDB sobre a reforma ministerial j duram meses. No ano passado, assim que o PSB deixou o governo e as duas pastas que comandava (Portos e Integrao Nacional), os peemedebistas pressionaram pela nomeao do senador Vital do Rgo (PB) para a Integrao Nacional, mas o pedido foi rejeitado pela presidente.
poca, ela argumentou que aguardaria para fazer as mudanas no primeiro escalo no comeo de 2014.
O PMDB aceitou o argumento, mas continuou com a esperana de herdar uma das pastas que eram comandadas pelos socialistas e que conseguiria fazer Vital ministro.
Desde dezembro, porm, Dilma oscila nas negociaes que mantm com o maior partido da sua base aliada no Congresso, ora indicando que dar mais uma pasta ao PMDB, ora sugerindo que no poder atender ao pedido porque precisa incluir mais legendas aliadas para formar uma aliana eleitoral mais forte para a reeleio.
No comeo do ano, Dilma deu duas informaes contraditrias na mesma semana a Temer. Na primeira reunio, disse que no teria como acatar a vontade do PMDB. Dois dias depois, com a reao negativa dos parlamentares do partido, indicou que poderia ampliar de cinco para seis o nmero de ministrios sob o comando peemedebista, mas no daria a Integrao Nacional.
No novo captulo da novela nesta semana, Dilma surpreendeu os peemedebistas novamente. Ofereceu o comando da pasta de Integrao Nacional, mas pediu que o partido indicasse o lder da bancada no Senado, Euncio Oliveira (CE).
Redao com globo.com