RUBENS VALENTE
CAMILA MATTOSO
DE BRASLIA
Um grupo de 30 inquritos sobre parlamentares com foro privilegiado no STF (Supremo Tribunal Federal) tramita h mais de seis anos sem desfecho. Desses, sete esto h mais de dez anos inconclusos.
So os casos mais antigos no tribunal, segundo levantamento a partir de listagem fornecida pela corte.
Reportagem da Folha revelou neste domingo (6) que as 84 aes penais (em que o inqurito j foi encerrado e o acusado virou ru) hoje em andamento no STF esto, em mdia, h sete anos e oito meses sem soluo final.
O clculo considera a data do incio da apurao, mesmo que em primeira instncia, pois muitos casos so paralisados e passam ao STF por fora do foro privilegiado.
Ao todo, 362 inquritos esto em andamento no tribunal sobre polticos com foro, entre deputados federais, senadores, ministros de Estado e do TCU (Tribunal de Contas da Unio), segundo a lista do STF.
Entre os mais longos est o que trata de depsitos da empreiteira Mendes Jnior, feitos por um lobista, ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o crescimento patrimonial do parlamentar.
O caso foi aberto h mais de nove anos para apurar a suspeita de que a empresa pagou penso para uma filha do senador com uma jornalista.
A PGR (Procuradoria-Geral da Repblica) apresentou denncia s em 2013, sob as acusaes de peculato, falsidade ideolgica e uso de documento falso.
Somente no ms passado o atual ministro relator do caso, Luiz Fachin, liberou o inqurito para ser analisado em plenrio. Se a denncia for aceita, Renan se tornar ru pela primeira vez no STF.
Outro inqurito entre os mais antigos trata do senador Romero Juc (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento do governo Michel Temer.
Aberto pela Polcia Federal h quase 14 anos, o inqurito conta com uma fita cassete entregue por uma comisso de assentados da reforma agrria na qual o ento prefeito de Cant (RR) havia dito a um empreiteiro que receberia uma “comisso” de 10% sobre recursos pblicos liberados e que um senador de Roraima, supostamente Juc, tambm receberia um percentual por emendas destinadas ao municpio.
Apenas em 2016 o STF autorizou quebra de sigilo bancrio. Os resultados esto sendo analisados pela PGR.
Outro dos inquritos mais longevos trata do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e est paralisado h quatro anos porque o STF considerou que necessrio primeiro haver uma soluo sobre a discusso administrativa acerca do recolhimento de Imposto de Renda do peemedebista.
Na denncia, a Procuradoria afirmou que, de 1997 a 2000, o parlamentar “utilizou-se indevidamente da reduo da base de clculo” do imposto. O valor ento cobrado foi de R$ 2,8 milhes.
Em 2012, ao mandar paralisar o caso, o ministro Marco Aurlio ordenou tambm a suspenso do prazo de prescrio. Ele fez um desabafo sobre o volume de trabalho no Supremo: “ de notar que esto aguardando o exame do plenrio, consoante revela o stio do Supremo na internet, 791 processos. Sou relator de 162, o mais remoto liberado em 16 de outubro de 2000”.
Segundo Marco Aurlio, “o quadro retrata a necessidade de otimizar o tempo e conciliar celeridade e contedo”.
Trs outros inquritos no STF, sendo dois sobre o deputado federal Vander Loubet (PT-MS), se arrastaram por tanto tempo que a PGR j pediu o arquivamento por prescrio das eventuais penas.
OUTRO LADO
Em nota divulgada na sexta (4), a PGR afirmou que tribunais como o STF e o STJ (Superior Tribunal de Justia) “no foram concebidos para instruir processos desde o seu incio”.
“A estrutura dessas cortes foi concebida para julgamento de recursos de processos que chegam devidamente instrudos”, informou a PGR.
“Estima-se que existam hoje cerca de 22 mil pessoas com prerrogativa de foro, o que parece um exagero. A discusso deste tema fundamental, j que cada vez mais forte na sociedade a ideia de que o modelo atual leva impunidade. preciso repensar o foro por prerrogativa de funo.”
O STF informou que considera dois anos e quatro meses como o tempo mdio de tramitao de uma ao penal no tribunal. O tribunal usou critrios diferentes dos adotados pela Folha para contagem do tempo.
Em manifestao no Supremo, a defesa de Renan Calheiros negou o crime de peculato, afirmou que a denncia da PGR “inepta” e disse que “no existe inconsistncia da evoluo patrimonial” do senador.
Em sua defesa no inqurito, Jader Barbalho afirmou “a regularidade dos rendimentos da atividade rural, a venda de gado”.
Em entrevista, em maio, Juc foi indagado sobre o caso de Cant (RR): “Estou muito tranquilo contra qualquer investigao. Estamos numa democracia, qualquer servidor pblico deve ser investigado”.
Com Folha de So Paulo