Até outro dia, mulher da minha vida!

A dor da auxència jamais passará

Muita gente fala que está preparada para quando a.morte chegar. Não acredito. Mesmo sabendo que ela é parte do “ciclo da vida”, é difîcil achar que alguém não tema pelo fim de sua própria existência.

Basta avaliar as reações semelhantes diante da morte de um ente querido. No caso da matriarca da família, pior ainda. Quando é dos outros, a gente vai, dar um tapinha nas costas ou um abraço e diz: “a vida é assim mesmo, a dor vai passar, bola pra frente” ou coisa parecida.

Mas, a gente sabe que não passa. Nunca vai passar. Pode até diminuir, mas não passa. Agora, mais que nunca, sei disso.

Hoje, acordei mais vazio. Ontem, foi o dia mais triste da minha vida. Começou com a notícia por telefone, recebida logo de manhã. Estava falando com outra pessoa quando minha irmã ligou. Meu coração disparou. Liguei de volta e fui logo ao ponto: “Pode dizer”. E ela confirmou o que, no fundo, eu já sabia.

Maria das Neves Farias de Sousa ou Dona Nevinha, como era conhecida, estava internada no Hospital da Unimed havia umas três semanas, maior parte desse tempo na UTI. Além das complicações do Alzaimer, Artrose e Artrite, carregava o peso dos seus 91 anos cansados de tantas obrigações e desafios.

Mulher “do sítio”, tinha apenas a coragem e o forte organismo a seu favor nas lutas diárias. Teve quinze filhos, criou onze e agora somos apenas cinco. Nessa longa caminhada, foi muitas vezes pai e mãe.

Era uma mulher rude e até ignorante, às vezes,  por conta da origem e do pouco estudo, mas também sabia ser carinhosa e amiga quando julgava necessário e encontrava alguém que lhe compreendia. Sem condições financeiras e intelectuais, com a ajuda dos próprios filhos, foi muito mais mãe que certas abençoadas com diplomas e regalias bancados pelo dinheiro. Dava a vida pelos filhos.

Por isso, pouco antes de fechar o caixão, eu disse a ela, e somente a ela, através do silêncio da minha alma: “Vai com Deus mãe, um dia a gente se encontra”.

E digo sem medo de errar: Perdi ontem aquela que foi a mulher da minha vida.

 

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