A transparência na administração dos clubes paraibanos sempre passou ao largo das principais preocupações dos seus dirigentes. Os seus estatutos não oferecem aos torcedores meios de contestação em suas estruturas, e um universo nebuloso é formado internamente em cada agremiação.
O mais comum dos questionamentos é em relação a participação da torcida no processo de escolha daqueles que irão comandar o seu time do coração. Modelos bastante fechados impedem ou dificultam a entrada de novas pessoas no seu arranjo administrativo.
Um desses universos cercados de nebulosidades em cada um diz respeito às suas contas, orçamentos e dívidas. Desrespeitando o que está previsto pela Lei Pelé, nenhuma entidade desportiva do nosso futebol cumpre com a obrigação de publicar seus demonstrativos financeiros, referentes ao exercício anterior, até o dia 30 de abril do presente ano.
Além do problema que isso acarreta em relação a liberação de verbas por parte do poder público, a falta de clareza sobre a situação financeira cria um cenário de incertezas para que possíveis parceiros venham a fechar um negócio, por exemplo. Como um cidadão terá confiança o suficiente para depositar dinheiro do seu empreendimento em algo que não se sabe o seu real estado financeiro?
A reportagem do Portal Voz da Torcida foi em busca do que é público em relação ao que é cobrado e o que devem os grandes clubes do nosso estado. É importante destacar que o que será exposto abaixo não representa a totalidade das dívidas, mas apenas o que foi ajuizado e/ou contestado. Boa parte da dívida real é contraída de maneira informal, com dirigentes ou pessoas ligadas ao clubes contraindo empréstimos, por exemplo, ou não tem, ainda, contestação oficial.
O primeiro caminho foi a consulta ao aplicativo Dívida Aberta da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, órgão de direção superior da Advocacia Geral da União. Cabe a procuradoria a representação e fiscalização jurídicas da União Federal nos assuntos relativos à Dívida Ativa da União (DAU). Ou seja, os débitos tributários com a União estão lá.
Foram realizadas duas consultas, a primeira em 18 de março de 2021 e a segunda no dia 20 de maio. Nesse espaço de dois meses já foi possível observar uma boa alteração nas situações de Botafogo-PB, Treze e Campinense. A equipe da capital em março registrava uma dívida de 214 mil reais em débitos previdenciários. Esse valor não consta mais no registro, está zerado, o que indica o acerto, ou possível parcelamento, da irregularidade com a Previdência Social.
Já os Maiorais apresentaram um aumento desses valores. O Galo viu um aumento de mais de 35 mil reais, enquanto a Raposa cerca de 13 mil. Apesar de ter um crescimento abaixo do rival, a situação na Bela Vista é bem mais complicada que a encontrada no São José.
O Campinense Clube tem hoje 5.420.352,59 reais em dívidas referentes a tributos pagos a União. A natureza previdenciária é a mais grave, sendo 18 diferentes débitos que somam a quantia de 3.641.140,27 reais. Em segundo lugar vem a inadimplência com o FGTS, onde 1o débitos totalizam 1.594.750,92 reais. Outros 30 diferentes débitos em multas trabalhistas atingem o valor de 165.298,99 reais, e demais débitos tributários no valor de 19.162,41 reais.
A situação do Treze Futebol Clube é bem melhor, mais ainda assim ruim e crescente, como demonstrado anteriormente. O valor total devido é de 443.413,96 reais, com as previdenciárias, bem como o rubro-negro, representando a maior parte. Para o INSS, são 12 débitos distintos que representam 321.378,00 reais. Há ainda 80.543,73 reais de 17 débitos em multas trabalhistas e 41.492,23 reais em demais débitos tributários.
Outra fonte de informação apurada foi a consulta dos CNPJs no birô de crédito do Serasa. Lá estão reclamações contra os clubes sobre dívidas diversas, como bancos e outras empresas por serviços variados e reclamações judiciais. Todos os acessos foram feitos no dia 13 de maio de 2021.
O Botafogo Futebol Clube tem 3 inscrições em dívidas com instituições financeiras que atingem o valor de 117 mil reais. Só o banco Santander inscreveu, em 28 de fevereiro deste ano, uma reclamação no valor de 112 mil por um financiamento.
Para dívidas em segmentos da prestação de serviço são registrados 13 ocorrências inteirando mais de 26 mil reais. O relatório apenas exibe as cinco últimas reclamações, todas elas realizadas pela Classic Turismo no ano passado. Tanto as com os bancos, quanto com prestadores de serviço, são fruto da antiga gestão, de acordo com a atual diretoria.
O alvinegro do Presidente Vargas, com relação ao que é devido às empresas bancárias e de serviços, tem situação mais branda. São 479 reais para a primeira e 2.383 reais na segunda categoria, com 7 ocorrências. Entre elas uma de um mês atrás com a Energisa e cerca de 1.800 reais com a Braspress Transportadora, todas inscritas nos últimos quatro meses.
Porém, diferente do rival no Clássico Tradição, apresenta ocorrências de ações judiciais. As quatro ações de execução totalizam 721.634,22 reais, sendo três oriundas da justiça do trabalho, inscritas na plataforma entre os anos de 2017 e 2020.
A última de janeiro de 2020, no valor de 77 mil reais, é referente a processo movido pelo preparador físico Florindo Ghindini. Ghindini integrou a comissão do técnico Leocir Dall’Astra no Campeonato Paraibano de 2017. Mais de dois anos após, venceu a causa contra o clube.
Mais uma vez a pior situação se encontra no Renatão. Estão registradas cobranças da Carajás, do ano de 2017, da quantia de 3 mil reais. Ainda são encontrados dois protestos que alcançam o valor de 8 mil reais. É na seção de ações judiciais que o quadro é preocupante.
Estão registradas 16 diferentes ocorrências, onde as quatro últimas informadas, de execuções da justiça trabalhista, todas inscritas em 2020, totalizam o incrível montante de cerca de 33 milhões de reais. Como não foi possível visualizar todas as inscrições, o valor pode ir muito além disso.
Na última semana, o clube iniciou uma campanha de doação via Pix com a torcida em suas redes sociais. Com o bloqueio judicial das rendas, a diretoria raposeira encontrou essa saída para tentar buscar uma ajuda necessária. No último levantamento divulgado já haviam alcançado a quantia de 5 mil reais.
É importante ressaltar que a Serasa não é a única empresa que oferece esse tipo de serviço, o que torna possível existirem mais cobranças que não foram levantadas pela reportagem. Também destacamos que muitas dívidas podem existir e ainda não terem sido cobradas formalmente, sendo necessário acesso as contabilidades internas dos clubes para conhecer o real tamanho do buraco.
A soma de todos os valores apuradas chega as seguintes montas: Campinense Clube: 38.358.395,94; Treze Futebol Clube:1.195.112,99 e Botafogo Futebol Clube: 144.518,09.
Levantamentos de outros clubes no aplicativo da Dívida Aberta: Auto Esporte Clube: 175.959,90; Nacional Atlético Clube: 108.953,35; Sousa Esporte Clube: 67.386,37; Esporte Clube de Patos: 28.855,69; Atlético Cajazeirense de Desportos: 25.209,61.
Com Equipe @Vozdatorcida/patosonline